Por que o nosso trabalho importa?
Quando as florestas estão saudáveis, em pleno desenvolvimento sustentável e próspero, são morada de milhares de espécies de plantas e animais, bem como de povos e comunidades tradicionais. Acima das árvores, vastos rios de vapor d’água se formam e cruzam oceanos para ajudar a regular o ciclo da água no planeta. No subsolo, teias extremamente complexas de microorganismos se comunicam em uma linguagem ainda não decifrada pela ciência. Na Amazônia, a floresta pulsa como o coração do mundo, nutrindo vida ao bombear umidade e beleza para todos os seres.
As florestas também contêm riquezas materiais, como petróleo, ouro, madeira e terras que podem ser rapidamente transformadas em lucro. Enormes extensões de florestas tropicais foram varridas da face da Terra nos séculos 19 e 20. A destruição continua no século 21. Quando povos indígenas e comunidades locais que se opõem, são comumente marginalizados, e até mesmo exterminados.
Nós acreditamos que o futuro coletivo depende da conservação. Por isso, nosso trabalho é focado em erradicar, ou ao menos mitigar, ameaças às florestas e aos seus povos e comunidades.
Por que a conservação da Amazônia importa?
Mudanças climáticas
A dura realidade das mudanças climáticas lança cada vez mais suas sombras pelas florestas e por toda a humanidade. Embora não saibamos do futuro, isso é o que sabemos até agora: os ecossistemas dos trópicos armazenam grandes quantidades de carbono e ajudam a estabilizar os padrões climáticos do planeta. O desmatamento provocado pela ação humana chega a ser responsável por até 15% das emissões globais de gases do efeito estufa, que acabam com a camada protetora da nossa atmosfera e causam o aquecimento da Terra. O aumento das temperaturas pode desencadear secas ou inundações que enfraquecem, ou até mesmo matam, florestas que já estão sob estresse climático e ambiental. Pessoas que vivem nas florestas tropicais podem perder suas casas, seus meios de subsistência e, às vezes, suas vidas devido aos efeitos desestabilizadores do aquecimento global.
Biodiversidade
Ecossistemas tropicais abrigam não apenas o maior número de espécies do mundo, mas também a maior variação de espécies em forma e função. Sabemos que a alta biodiversidade é uma consequência da boa saúde e resiliência do ecossistema, só que nem sempre entendemos as relações entre as espécies. À medida que as mudanças climáticas começam a impactar a sobrevivência de algumas espécies, precisamos de mais conhecimento se queremos manter a força e o bem-estar da floresta.
Felizmente, a sabedoria acumulada por povos indígenas e comunidades locais nos auxiliam a entender e explicar as interações entre diversas espécies. Atuamos de maneira próxima e colaborativa com nossos parceiros, utilizando suas percepções exclusivas sobre os mistérios da floresta, para identificar, catalogar e proteger a biodiversidade de seus territórios.
Ao redor do mundo, povos indígenas representam apenas 5% da população mundial e protegem aproximadamente 80% da biodiversidade terrestre restante no planeta.
Pecuária
Em quase todos os países amazônicos, a pecuária é o maior impulsionador do desmatamento. Os fazendeiros iniciam incêndios ilegais para derrubar as florestas e, em seguida, ganham o título de propriedade trazendo seu gado para as áreas desmatadas. Quando gramíneas nativas se esgotam e não podem sustentar os rebanhos, alugam terras para plantações de soja. À medida em que grandes produtores do agronegócio buscam mais terras, a fronteira de destruição continua a se expandir, especialmente ao longo dos rios. Quando a população local tenta proteger seus territórios, protestos e manifestações podem ser recebidos com extrema violência.
Anciãs e anciões indígenas de nossas comunidades parceiras nos alertam que as grandes fazendas fragmentam a floresta e bloqueiam a conectividade natural entre os ecossistemas. Trabalhamos com a população e governos locais para expandir as reservas indígenas e áreas protegidas, a fim de criar corredores florestais saudáveis e restaurar o movimento natural da água limpa.
Represas
Embora forneçam energia renovável, as barragens são provavelmente os projetos de desenvolvimento mais polêmicos da Amazônia. As consequências de barragens mal localizadas podem ser terríveis para o meio ambiente. Florestas valiosas são inundadas, animais selvagens raros podem ser afogados e locais de pesca podem ser destruídos. Estradas de construção podem se tornar vias de desmatamento.
Esses projetos também trazem problemas para habitantes locais. As barragens frequentemente deslocam grandes populações indígenas, povos e comunidades, separando-as de suas terras, de suas plantas medicinais e de seus espaços sagrados.
Alguns de nossos parceiros indígenas veem os sistemas de água do planeta como semelhantes aos sistemas circulatórios do corpo humano. A livre circulação da água é fundamental para manter a saúde de todos os seres, dizem anciãs e anciões das comunidades. Nessa interpretação, mesmo uma barragem bem localizada pode causar problemas imprevistos.
Desmatamento
Florestas tropicais são ecossistemas complexos e contêm galáxias inteiras de formas de vida. Desde minúsculos microorganismos que formam as bases das matas até árvores gigantescas e seculares que abrigam todos os tipos de criaturas voadoras, escaladoras e rastejantes. Nas crenças de povos indígenas, as florestas também são fontes de cultura, medicina, linguagem e memória.
Visto pelas lentes da biodiversidade, o desmatamento é um massacre. Quando uma floresta é derrubada, muitos de seus habitantes também morrem. Cerca de 20% das florestas originais da Amazônia já se foram para sempre. Há ainda muitos fragmentos desconectados que lutam para sobreviver, tão frágeis quanto oásis no deserto. As taxas anuais de desmatamento podem aumentar ou diminuir, mas os governos locais permanecem sob constante pressão para explorar as florestas para seus recursos.
Quando povos indígenas e comunidades locais retomam o controle de seus próprios territórios, o desmatamento esmorece e seus níveis podem cair drasticamente. Trabalhamos para que nossos parceiros possam garantir a titularidade legal de suas terras sempre que possível, e fornecemos as ferramentas de que precisam para administrá-las de maneira sustentável.
Mineração ilegal
O ouro se esconde debaixo das florestas da Amazônia e ao longo de seus rios. Atraídos pelo metal precioso, chegam desde empresas mineradoras transnacionais - de certa forma, regulamentadas - e trabalhadores - muitas vezes em situação de vulnerabilidade social - que atuam fora da lei. Camuflados na imensidão da selva, garimpeiros destroem margens de rios e florestas em busca de ouro. Quando são encontrados, uma grande quantidade de mercúrio é usada para separar o ouro de outros materiais. As toxinas do mercúrio vão para os rios e se acumulam na cadeia alimentar, colocando sob risco de envenenamento comunidades locais que dependem dos peixes para se alimentar. Ainda assim, a promessa de riqueza continua a seduzir pessoas, até mesmo de dentro das próprias aldeias, para este negócio mortal.
Em 2015, criamos o mapa online “Amazon Gold Rush”, em português algo como “Corrida do Ouro na Amazônia”. O mapa rastreia a destruição de milhares de hectares de floresta tropical nativa e intocada nas regiões remotas do Suriname. Olhos distantes agora têm a oportunidade de ver, em primeira mão, as cicatrizes que a mineração ilegal deixa na floresta.
Por que os povos da Amazônia importam?
Conhecimento tradicional
As diversas culturas da Amazônia estão intimamente ligadas a seus ecossistemas, e deles dependem para tudo: alimentos, água, remédios, bens materiais e bem-estar espiritual. O conhecimento acumulado ao longo de milhares de anos de convivência com a floresta vive na mente e no corpo dos mais velhos. Essas mulheres e homens podem ser herboristas mestres, líderes cerimoniais, contadores de histórias, consertadores de ossos, legisladores ou xamãs. Funcionam como bibliotecas na cultura ocidental, só que vivos, atuantes e presentes, preservando e transmitindo conhecimento de geração em geração.
Com suas tentações e conflitos, a vida moderna penetrou profundamente no cotidiano de povos e comunidades em maior parte da Amazônia e acabou por romper cadeias tradicionais de sucessão. Quando mais velhos morrem sem transmitir o que sabem, milhares de anos de informações podem se perder para sempre: o conhecimento da floresta se esvai, as histórias desaparecem, as línguas e as danças são esquecidas. Sem sua memória cultural, populações tradicionais começam a perder sua coerência.
Atuamos em várias frentes para fortalecer o conhecimento e a cultura tradicionais, incluindo programas de etnoeducação para jovens. Trabalhamos para resgatar e apoiar o relacionamento entre mais velhos e aprendizes para garantir a continuidade do conhecimento. Acreditamos que isso fortalece as culturas de nossos parceiros, contribui para a compreensão científica e auxilia poderosamente na conservação de suas terras e florestas.
Direito à terra
Se as florestas da América do Sul têm histórias para contar, os capítulos mais deprimentes certamente descrevem a história do colonialismo. Conquistadores europeus tomaram controle dos territórios dos povos indígenas e criaram estruturas de propriedade que permitiram a tributação, priorizando a extração de recursos. Durante séculos, habitantes originários dessas terras foram silenciados e não tiveram direitos legais sobre seus próprios territórios. Não apenas o legado do colonialismo foi injusto, como praticamente garante a destruição da floresta.
Em toda a Amazônia, povos e comunidades locais querem e precisam garantir direitos sobre seus territórios. Acreditamos que essas comunidades são nossos melhores aliados possíveis na conservação, uma vez que enfrentamos pressões cada vez maiores sobre os recursos da floresta. Colaboramos com nossos parceiros para fortalecer sua voz coletiva e melhorar sua capacidade de reivindicar, administrar e governar suas terras.
Degradação ambiental
Quando ecossistemas saudáveis começam a se desmanchar, as consequências para nossas comunidades parceiras são dolorosamente inestimáveis e sombrias. O desmatamento destrói seus meios de subsistência, elimina plantas usadas para fins medicinais, desestabiliza o ciclo da água, bem como padrões de chuva locais, e pode levar a deslizamentos de terra catastróficos. Se as terras forem desmatadas para a agricultura, os rios podem ser envenenados com produtos químicos e entupidos com sedimentos, e a pesca pode ser arruinada. Incêndios causados propositalmente para limpar florestas podem tornar o ar irrespirável. Comunidades inteiras saem enfraquecidas e os mais afetados são as crianças e os idosos.
Pessoas cujas vidas e culturas estão completamente ligadas aos territórios sofrem ainda mais do que a dura perda de seus ambientes naturais e meios de sobrevivência. Quando a floresta é destruída, nossos parceiros são privados não apenas de alimentos e remédios, mas também da fonte de sua linguagem, de suas filosofias e de um profundo e belo sentimento de pertencimento.
Junto com as nossas comunidades parceiras, nos esforçamos para recuperar e restaurar ecossistemas danificados. Também trabalhamos em diversas iniciativas para reconectar florestas fragmentadas, que vêm a florescer quando cuidadas e protegidas.