O Povo Wai Wai é um grupo indígena que habita as regiões das Guianas (Guiana e Suriname) e o Norte do Brasil, especialmente o sul do estado de Roraima. Pertencentes ao tronco linguístico Karib, há registros informais que relacionam o nome do povo ao animal tatu, o que diz muito sobre sua identidade: a ligação com o sentimento de pertencimento à terra, bem como as práticas de construções coletivas das moradias e as descobertas de caminhos pelas florestas que os levam a se conectarem com diferentes sabedorias, os unindo enquanto um grupo de resistência coletiva pelo território.
Os modos de vida dos Wai Wai estão ligados à caça, pesca e agricultura familiar. Apesar das influências externas, preservam rituais que celebram suas relações com os animais e suas forças – como a arte plumária –, cantos e danças para evocações espirituais e suas relações com outros povos e até não-indígenas. Esses são os rituais conhecidos como “pawana”, que, além de exaltarem a fertilidade e a celebração comunitária, também envolvem a recepção de visitantes, fortalecendo os laços sociais e as alianças.
Apesar de manterem relações harmoniosas com o meio ambiente, vizinhos e pessoas não indígenas, os Wai Wai enfrentam ameaças constantes a seus modos de vida. O desmatamento, além das invasões de madeireiros, grileiros e garimpeiros, compromete seu território. Projetos como a usina hidrelétrica de Jatapu também ameaçam as águas dos rios, dificultando a navegação e a pesca no rio Jatapu — fonte vital de subsistência para a comunidade.
Encontro pela resistência
Como parte se suas estratégias de mobilização pela proteção do território e de seus modos de vida, a Associação Indígena Wai Wai – AIWA, com apoio da Amazon Conservation Team Brasil (ACT-Brasil), realizou, entre 8 e 11 de setembro, um intercâmbio entre os Wai Wai de Roraima, no Brasil, e os que vivem no território de Kanashen (Kanashen Amerindian Protected Area – KAPA), na Guiana.
O encontro, realizado na Aldeia Anauá, dentro do Território indígena Wai Wai, em Roraima, contou com um diálogo sobre monitoramento e vigilância territorial, momento em que lideranças refletiram sobre as práticas locais de manejo e modos de vida, destacando os desafios e as potencialidades da gestão comunitária. A programação com mais de 100 participantes também abriu espaço para a apresentação de experiências de monitoramento territorial em outras realidades indígenas, trazendo inspirações e referências que enriqueceram o debate.
“Esse primeiro encontro entre os Wai Wai da Guiana e os de Roraima foi muito importante. Tivemos diálogos que fortalecem a união na defesa do território, das florestas, rios, animais e de tudo que faz parte da nossa vida. O Encontro acontece num momento em que os Wai Wai daqui precisam desse apoio e dessa troca com os parentes da Guiana, do Suriname e do Brasil. É um desejo coletivo. Só temos a agradecer”.
Alexandre Wai Wai – coordenador regional de Tuxauas (Caciques).
A partir desse diálogo, os povos Wai Wai de Roraima e da Guiana avançaram na construção de estratégias conjuntas de proteção territorial, fortalecendo a articulação entre as comunidades. O processo foi conduzido de forma participativa, resultando na elaboração de uma matriz de planejamento, que inclui produtos de uso fundamental para as comunidades locais, reforçando a autonomia e a capacidade de defesa de seus territórios.
O Encontro possibilitou ainda o maior entendimento do contexto que vivem os Wai Wai pelas organizações não-indígenas parceiras, para uma eventual condução de ações de apoio às comunidades em temas que sejam de interesse coletivo.
“Esse intercâmbio dos Wai Wai é muito importante para nós, da ACT-Brasil. Ao falar em fortalecer os Wai Wai, também falamos em fortalecer a proteção dos povos do entorno, inclusive daqueles em situação de isolamento. Quando os Wai Wai fortalecem a defesa de seus territórios, contribuem, ao mesmo tempo, para a proteção desses outros povos.”
Lirian Ribeiro – Analista de Campo da ACT-Brasil.
Seguir para existir
A partir do intercâmbio e da construção do planejamento para proteção e monitoramento territorial, os Wai Wai passam a contar com mais um instrumento para fortalecer sua história de organização social e defesa do território. Assim como o tatu, animal ao qual alguns fazem referência ao nome Wai Wai, eles seguem firmes na escavação de caminhos de resistência, protegendo suas terras e garantindo a vida para os seus e os que virão. Os Wai Wai resistem coletivamente e é nos encontros que eles fortalecem suas identidades e existências.


