Joenia Wapichana, o rosto da nova política indígena no Brasil
Durante a posse, na última sexta, a ministra Sonia Guajajara reforçou a importância de uma representante indígena na presidência da Funai

À frente do público, em posição de destaque, estavam importantes lideranças indígenas brasileiras: Sônia Guajajara, Joenia Wapichana, Weibe Tapeba, Raoni Metuktire, entre outros. No plano de fundo, sobre a suas presenças, a frase na parede anunciava: “segura o céu”, em referência à conhecida frase de Davi Kopenawa. As palavras no saguão do Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, reforçavam o sentimento de confiança e emoção dos presentes, que acompanharam a posse da primeira indígena a ocupar o posto de presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Em cerimônia histórica e carregada de momentos simbólicos, danças e ritos tradicionais, Joenia Wapichana foi aclamada oficialmente como a mais importante representante do órgão público referência no país para as políticas relacionadas aos povos indígenas. O evento foi realizado na última sexta-feira, 3 de fevereiro, e marca um grande avanço na defesa dos direitos dos povos originários brasileiros.

“Foram caminhos longos, muito sofridos, passamos anos de desmonte, de sucateamento, de desvalorização dos servidores públicos”, disse. Em seu discurso, Joênia reforçou a importância da participação popular no acompanhamento das ações da Funai, ressaltando a relevância de uma atuação coletiva, em conjunto com os outros ministérios, com os parlamentares, com as organizações da sociedade civil, as públicas e privadas.
De acordo com a presidenta, a prioridade da Funai nesta fase é a reorganização e o reestabelecimento do órgão. A ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara comemorou a nomeação de uma mulher indígena para o posto.
“Estamos construindo uma nova história, onde nós marcamos, aqui, o começo da política indígena no Brasil. Até então, era uma política indigenista, onde outras pessoas discutiam o que construir em nosso lugar”.
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas
Além de Sonia, também participaram do evento a a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, a liderança indígena Cacique Raoni Metukire, o coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Enock Taurepang.

Em sua fala, Cacique Raoni relembrou sua participação no ato de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em janeiro. Na ocasião, Raoni acompanhou o presidente e outros representantes do povo brasileiro na subida à rampa do Palácio do Planalto. Em seu discurso, com postura diplomática, Raoni defendeu a importância de uma política de paz e de encerramento dos conflitos em territórios indígenas.
Raoni lembrou que, há tempos, defende a necessidade de relações harmônicas entre os povos indígenas e não indígenas. “Não podemos ter ódio um do outro, não podemos gerar conflitos, violência entre nós e os brancos. Eu quero pedir que a gente fale uma língua só. Precisamos estar unidos, eu repudio a violência, o ódio, a inimizade entre nós brasileiros”, disse.
Em seu discurso, a ministra Sonia Guajajara falou sobre o momento histórico que passa o Brasil e sobre a importância do protagonismo das mulheres indígenas neste contexto. “A partir de agora, nós nunca mais vamos aceitar o Brasil sem nós. E vamos juntos nessa nova história, respeitando mulheres, respeitando a juventude. Agora, a gente também está ocupando esses espaços de poder e decisão. E nós vamos continuar firmes, lutando pela demarcação do nosso território e pela segurança dos nossos povos”, reforçou Sonia.
A ministra Marina Silva também reforçou o compromisso com a pasta, afirmando que o MMA estará ao lado de Sonia e Joenia para a garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas. “Temos uma responsabilidade com a democracia, com os direitos humanos, com os povos indígenas, com o combate à desigualdade, com a proteção da Amazônia e a justiça social”, comentou em sua fala.

Joenia também reforçou o protagonismo indígena das mulheres durante seu discurso. “Mulheres, nós vamos mostrar como é fazer a gestão de um órgão público”, disse, com olhos para as ministras Sônia Guajajara e Marina Silva. “Estamos assumindo essa responsabilidade para todo o Brasil. Queremos tirar tudo o que for reversão de direitos, fake news, e fazer com que os povos indígenas tenham seus direitos em exercício. A Funai quer cumprir a nossa Constituição Federal, a Funai tem o dever e a missão de proteger as terras e os povos indígenas, é essa a nossa missão: proteger a vida!”, finalizou Joenia.
Na mesma cerimônia, a presidenta da Funai assinou os atos que instituem a retomada de sete Grupos de Trabalho (GTs) para demarcação de Terras Indígenas (TI) em diferentes regiões do Brasil, a constituição de três GTs para início dos trâmites de demarcação de novas TIs, além do início de um GT exclusivo para orientar as ações de enfrentamento à crise humanitária que assola o povo Yanomami.