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Joenia Wapichana, o rosto da nova política indígena no Brasil

Durante a posse, na última sexta, a ministra Sonia Guajajara reforçou a importância de uma representante indígena na presidência da Funai

Na imagem, Sonia Guajajara e Joenia no momento da posse da presidência da Funai. Foto: Amanda Lelis /ACT-Brasil

À frente do público, em posição de destaque, estavam importantes lideranças indígenas brasileiras: Sônia Guajajara, Joenia Wapichana, Weibe Tapeba, Raoni Metuktire, entre outros. No plano de fundo, sobre a suas presenças, a frase na parede anunciava: “segura o céu”, em referência à conhecida frase de Davi Kopenawa. As palavras no saguão do Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, reforçavam o sentimento de confiança e emoção dos presentes, que acompanharam a posse da primeira indígena a ocupar o posto de presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).  

Em cerimônia histórica e carregada de momentos simbólicos, danças e ritos tradicionais, Joenia Wapichana foi aclamada oficialmente como a mais importante representante do órgão público referência no país para as políticas relacionadas aos povos indígenas. O evento foi realizado na última sexta-feira, 3 de fevereiro, e marca um grande avanço na defesa dos direitos dos povos originários brasileiros. 

Durante o evento, povos indígenas de diferentes regiões fizeram cantos, danças e rezas em celebração à nova presidência da Fundação. Foto: Amanda Lelis/ACT-Brasil

“Foram caminhos longos, muito sofridos, passamos anos de desmonte, de sucateamento, de desvalorização dos servidores públicos”, disse. Em seu discurso, Joênia reforçou a importância da participação popular no acompanhamento das ações da Funai, ressaltando a relevância de uma atuação coletiva, em conjunto com os outros ministérios, com os parlamentares, com as organizações da sociedade civil, as públicas e privadas.

De acordo com a presidenta, a prioridade da Funai nesta fase é a reorganização e o reestabelecimento do órgão. A ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara comemorou a nomeação de uma mulher indígena para o posto.

“Estamos construindo uma nova história, onde nós marcamos, aqui, o começo da política indígena no Brasil. Até então, era uma política indigenista, onde outras pessoas discutiam o que construir em nosso lugar”.

Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas

Além de Sonia, também participaram do evento a a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, a liderança indígena Cacique Raoni Metukire, o coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Enock Taurepang.  

Em ato simbólico, Joenia recebeu o casaco da Funai das mãos do Cacique Raoni , referência da luta indígena no país. Foto: Amanda Lelis/ACT-Brasil

Em sua fala, Cacique Raoni relembrou sua participação no ato de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em janeiro. Na ocasião, Raoni acompanhou o presidente e outros representantes do povo brasileiro na subida à rampa do Palácio do Planalto.  Em seu discurso, com postura diplomática, Raoni defendeu a importância de uma política de paz e de encerramento dos conflitos em territórios indígenas.

Raoni lembrou que, há tempos, defende a necessidade de relações harmônicas entre os povos indígenas e não indígenas. “Não podemos ter ódio um do outro, não podemos gerar conflitos, violência entre nós e os brancos. Eu quero pedir que a gente fale uma língua só. Precisamos estar unidos, eu repudio a violência, o ódio, a inimizade entre nós brasileiros”, disse.  

Em seu discurso, a ministra Sonia Guajajara falou sobre o momento histórico que passa o Brasil e sobre a importância do protagonismo das mulheres indígenas neste contexto. “A partir de agora, nós nunca mais vamos aceitar o Brasil sem nós. E vamos juntos nessa nova história, respeitando mulheres, respeitando a juventude. Agora, a gente também está ocupando esses espaços de poder e decisão. E nós vamos continuar firmes, lutando pela demarcação do nosso território e pela segurança dos nossos povos”, reforçou Sonia. 

A ministra Marina Silva também reforçou o compromisso com a pasta, afirmando que o MMA estará ao lado de Sonia e Joenia para a garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas. “Temos uma responsabilidade com a democracia, com os direitos humanos, com os povos indígenas, com o combate à desigualdade, com a proteção da Amazônia e a justiça social”, comentou em sua fala. 

O Cacique Jaci Macuxi vestiu Joênia com uma faixa de artesanato indígena, em referência à “faixa presidencial”, ato simbólico que celebrou sua representatividade entre os povos. Foto: Amanda Lelis

Joenia também reforçou o protagonismo indígena das mulheres durante seu discurso. “Mulheres, nós vamos mostrar como é fazer a gestão de um órgão público”, disse, com olhos para as ministras Sônia Guajajara e Marina Silva. “Estamos assumindo essa responsabilidade para todo o Brasil. Queremos tirar tudo o que for reversão de direitos, fake news, e fazer com que os povos indígenas tenham seus direitos em exercício. A Funai quer cumprir a nossa Constituição Federal, a Funai tem o dever e a missão de proteger as terras e os povos indígenas, é essa a nossa missão: proteger a vida!”, finalizou Joenia. 

Na mesma cerimônia, a presidenta da Funai assinou os atos que instituem a retomada de sete Grupos de Trabalho (GTs) para demarcação de Terras Indígenas (TI) em diferentes regiões do Brasil, a constituição de três GTs para início dos trâmites de demarcação de novas TIs, além do início de um GT exclusivo para orientar as ações de enfrentamento à crise humanitária que assola o povo Yanomami.