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Leia sobre a inauguração do Centro de Medicina Indígena na TI Parque Tumucumaque

Centro Guardiões de Conhecimento Kapai e Aretina, na Terra Indígena (TI) Parque do Tumucumaque. Foto: Talita Maboni

Em primeiro de outubro de 2024 foi inaugurado o Centro Guardiões de Conhecimento Kapai e Aretina, na aldeia Urunai, na Terra Indígena (TI) Parque Tumucumaque. O centro é um resultado do Programa Ankarani de Incentivo à Medicina Indígena, realizado há dois anos pelos povos Tiriyó, Kaxuyana e Txikyana, na região localizada entre os estados do Amapá e do Pará e próximo à fronteira do Brasil com o Suriname. 

O espaço já está em funcionamento e abriga iniciativas de formações, trocas e outras atividades de valorização das práticas, dos conhecimentos e dos especialistas em medicinas indígenas destes povos. Além disso, o centro está sendo utilizado por técnicos do Distrito Sanitário Especial Indígena Amapá e Norte do Pará (DSEI AP/PA) para atendimento aos indígenas. 

Participaram do evento o presidente e fundador da ACT, Mark Plotkin, o diretor da ACT-Brasil, Luiz Lopes e a diretora da ACT-Guianas, Minu Parahoe, além de outros profissionais da ACT. Também estão presentes representantes da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do Sistema Único de Saúde (Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS), da DSEI AP/PA, da Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (SESAI-MS), da DOB Ecology, organização holandesa que financia a iniciativa do centro. 

Organizações do Suriname também marcam presença no evento para conhecer a iniciativa e vislumbrar parcerias que contemplem os povos deste país. Participam representantes da “Medische Zending”, organização responsável pela saúde indígena do Suriname e da Otimisi, organização da sociedade civil que lidera a luta pelo desenvolvimento de uma política e do ordenamento jurídico para a saúde indígena naquele país. 

A construção, cujo projeto foi liderado pela arquiteta e consultora na ACT-Brasil, Talita Maboni, valoriza a arquitetura tradicional Tiriyó, utilizando materiais da região, como tijolos ecológicos feitos com prensa. O local tem espaço multiuso, sala de ensino, salas para manipulação de plantas medicinais, alojamento para os visitantes e pacientes desta ou de outras comunidades, cozinha e banheiros, sala para atendimento pelos especialistas indígenas e sala para atendimento pelos profissionais do DSEI. 

As lideranças locais: cacique Amisipa Kapai Tiryó e seu filho, Demétrio Amisipa Tiryó, durante a inauguração do centro. Foto: Amanda Lelis

Programa Ankarani 

Iniciado em 2021, o Programa Ankarani é resultado da parceria entre a Amazon Conservation Team Brasil (ACT-Brasil) e a Associação dos Povos Indígenas Tiriyó, Kaxuyana e Txikiyana (APITIKATXI), organização representativa dos povos da região. 

Seu propósito é o incentivo e a valorização das práticas de medicina indígena dos povos que vivem no lado oeste do Parque Tumucumaque. O planejamento foi elaborado de forma colaborativa, com representantes dos povos, caciques, estudantes, homens e mulheres das comunidades indígenas desse território. 

O programa é uma demanda antiga das lideranças da região, entre os quais figuram os caciques Amisipa Kapai Tiriyó, da aldeia Urunai, e Kurawaka Aretina Tiriyó (in memoriam), que foi cacique da aldeia Pedra da Onça.  

“Durante dez anos, lutamos para conseguir esse projeto. Felizmente, agora, o meu sonho está andando. Os jovens estão aprendendo com outros pajés e estão muito felizes. Isso é muito importante, porque nós não podemos perder nosso conhecimento tradicional”

Cacique Amisipa Kapai Tiriyó

O programa tem seis eixos e conta com formações sobre os direitos indígenas para a proteção de seus conhecimentos tradicionais, inclusive aqueles associados ao patrimônio genético, além da construção de instrumentos jurídicos coletivos para fortalecer a proteção desses saberes. 

Além de incentivar as práticas medicinais e a valorizar o dos conhecimentos dos povos do lado Oeste do Tumucumaque, o programa tem a premissa da proteção desses conhecimentos. Nesse sentido, o programa conta com a criação de mecanismos para salvaguarda dos direitos indígenas, com formação e assessoria jurídica aos membros da comunidade. E uma das estratégias encontradas pela comunidade, para garantir essa proteção foi a adoção da sua língua materna em todas as atividades com presença de não indígenas. 

As atividades realizadas no centro são de acesso e usufruto exclusivo das comunidades e dos povos participantes, com o cuidado de que toda a transmissão de conhecimentos seja feita na língua materna e exclusivamente para grupos indígenas das comunidades, escolhidos pelas lideranças locais, como explica o antropólogo João Paulo Barreto, que foi o analista de medicina indígena da ACT-Brasil responsável pela implementação do programa Ankarani.  

Valorizar o conhecimento indígena sobre a utilização de recursos da floresta envolve também a proteção desse conhecimento. Foto: Amanda Lelis

Políticas Públicas 

A iniciativa dos povos do Tumucumaque a partir do programa deve servir de referência para o desenvolvimento e a melhoria de políticas públicas relacionadas à saúde indígena. Após a inauguração do centro de medicina, A ACT-Brasil assinou um Acordo de Cooperação Técnica com a AgSUS, para o desenvolvimento conjunto de iniciativas voltadas para o fortalecimento das Medicinas Indígenas, a melhoria da infraestrutura de saúde nas comunidades indígenas, a promoção da qualidade da água, o incentivo às práticas produtivas sustentáveis que promovam a segurança alimentar e a saúde e a expansão dessas ações para novos territórios indígenas. 

* Texto adaptado a partir da reportagem Tiago Kirixi Munduruku para a revista WANAKI.