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Telma Taurepang: a voz indígena que ecoa na Inglaterra

Participantes da mesa redonda que trouxe a perspectiva indígena para evento sobre sustentabilidade voltado ao setor privado. Crédito: Sandra Charity.

Frente a um público de CEOs e de líderes de todo o mundo, a liderança Telma Taurepang, coordenadora da União de Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), entoou um cântico de seu povo na abertura de uma mesa redonda do evento Terra Carta Roundtables & Exhibition, realizado nos dias 10 e 11 de março em Londres, Inglaterra. O evento é realizado pelo Rei Charles III dentro da iniciativa Sustainable Markets Initiative (SMI), um fórum de referência do setor privado que tem, como tema, a transição econômica para um futuro sustentável. Telma ainda teve a oportunidade de entregar um cocar para o rei, em uma sessão privada, numa troca simbólica de “liderança para liderança”. 

Com seu canto, Telma sensibilizou os convidados da mesa redonda Perspectivas Indígenas, moderada pelo Chefe Perry Bellegarde, liderança indígena canadense. O objetivo da sessão era o de trazer a perspectiva de indígenas e especialistas sobre a relação entre as mudanças climáticas, a conservação e a criação de parcerias com o setor privado, que beneficiem os povos indígenas e seus direitos. Na mesma atividade, participou Marcelo de Andrade, um dos fundadores da organização Pro-Natura International e membro do conselho diretor da Amazon Conservation Team (ACT), e Sandra Charity, Diretora Presidenta da ACT-Brasil. 

“Meu canto diz que existe um grande espírito e esse espírito, ao bater as asas, varre os males de nossa Terra Mãe. Esse canto diz que precisamos seguir sem olhar para trás, e que há uma grande Mãe que chama seus filhos para alimentar. Estes filhos precisam ajudar a essa Mãe no bem viver do território”, lembrou Telma. 

Nessa mesa redonda, foram apresentadas iniciativas de comunidades indígenas, e se debateu sobre como as parcerias com essas comunidades podem contribuir para mitigar os riscos ambientais, sociais e de governança do setor privado, desde que respeitando os acordos previstos na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas – que inclui o princípio da consulta para o consentimento livre, prévio e informado.  

Na ocasião, Telma destacou que, para mitigar os riscos, é importante que seja garantida a demarcação dos territórios indígenas no Brasil.” O setor privado não tem como investir em áreas que não tenham reconhecimento dos ‘donos’ da terra, que somos nós”, reforçou a liderança, a única indígena da América Latina presente no evento.  

De liderança para liderança: Telma Taurepang entrega um cocar ao Rei Charles III.
Crédito: The Royal Family.

Liderança feminina – Telma Taurepang é originária da Terra Indígena Araçá, no Estado de Roraima. Os Taurepang são uma etnia indígena presente na fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana Inglesa. Educadora, estudante de Antropologia na Universidade Federal de Roraima (UFRR) e uma líder indígena atuante no movimento de mulheres, Telma foi a primeira coordenadora mulher no Conselho Indigenista de Roraima (CIR), uma importante organização política dos indígenas na Amazônia, e ajudou a fundar a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).  

Sua fala no evento na Inglaterra foi contundente sobre a responsabilidade do setor privado sobre a vida dos povos indígenas. Telma lembrou também que as mulheres são bastante impactadas por atividades que degradam os territórios, como a mineração, o desmatamento e o agronegócio, ampliando a violência que chega com as invasões e a degradação. Além disso, as mulheres e meninas indígenas são particularmente vulneráveis às mudanças climáticas, que intensificam desigualdades e limitam ainda mais o acesso a recursos, educação, saúde e participação política. 

Para Telma, falar sobre estes temas a uma plateia de empresários e outras lideranças pode ampliar o olhar desse público sobre a responsabilidade do setor privado em relação aos impactos sobre a Amazônia e seus povos. “Os empresários precisam ter cada vez mais consciência sobre o que produzem, o que compram de seus fornecedores, e entenderem também questões políticas importantes para nós, como a demarcação de nossos territórios”, completa. 

Com a UMIAB, a ACT-Brasil está desenvolvendo o programa Formação Política, Direitos e Proteção das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira. O objetivo é fortalecer e promover os direitos, a autonomia e o protagonismo de mulheres e meninas indígenas no enfrentamento às violências e vulnerabilidades que as afetam, e garantindo sua participação ativa em espaços de decisão política e na construção de soluções para os desafios enfrentados em seus territórios.   

Balanço – A Diretora Presidenta da ACT-Brasil, Sandra Charity, avaliou como muito positiva a participação de Telma no evento, e destacou a importância de ter as próprias vozes indígenas trazendo seu olhar sobre os territórios – afinal, como afirmamos em nossa missäo, são os povos indígenas que contribuem para preservar a biodiversidade mundial, adotando práticas que ajudam a conservar a floresta em seus territórios. 

“A mesa redonda em que Telma participou teve como objetivo funcionar como uma ponte entre o mundo dos negócios do setor privado e dos povos indígenas, e importante para dar elementos ao setor privado para que identifiquem melhor as parcerias com estes povos. O setor privado muitas vezes não sabe por onde começar esse caminho”, explica Sandra. 

O evento ainda teve a participação do vice-Ministro brasileiro do Plano de Transformação Ecológica, Rafael Dubeux, que expôs na sessão A Oportunidade do Brasil na COP30: Remodelando a Diplomacia Climática Através da Liderança do Setor Privado. O plano é uma iniciativa coordenada pelo Ministério da Fazenda e, entre outros, tem foco na criação de mecanismos financeiros, políticas econômicas e incentivos para a apoiar a transição ecológica no Brasil.  

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